Ela estava cansada. Ela queria mudanças, ela queria uma vida melhor, menos preocupações, menos estresse, menos ansiedade. Ela só queria viver. Viver em paz, viver com quem a ama e por ela é amado. Ela só queria viver.
Mas não era assim que a vida funcionava.
Na verdade, todos a ignoravam, todos com quem ela mantinha algum tipo de contato, por mínimo que fosse, desapareceram, como que se quisessem mostrar que desaprovavam algo que ela tivesse feito. E por isso ela ficava chateada, sim, ficava, pois afinal de contas, agora ela já não tinha mais ninguém. Seus pais, seus amigos, todos, haviam-na deixado. Ela estava mais sozinha do que nunca, e desta vez, com enormes responsabilidades. Ela temia que não conseguisse, temia que surtasse a qualquer momento, colocando em perigo aquele a quem ela mais amava.
Com tudo isso ela já não sabia o que fazer. Tudo o que ela queria era ser amada e respeitada, mas tudo o que ela recebia eram olhares de desdém e desaprovação. No fundo, ela não dava a mínima para a opinião dos outros quanto às suas atitudes. Quem sabia era ela, quem sabia se era certo ou não, era ela e talvez, Deus, ou Deusa, Jeová, Alá, tanto faz. Vários nomes para a mesma pessoa. Assim como ela, às vezes era Hakkyo, outras, Panddhorah. Uns a chamavam pelo nome real, e na maioria das vezes, ela se sentia como Haushinka ou como Kohakko. Todos personagens criados por ela, que cada um, separadamente, representava um estado de espírito, uma "personalidade" diferente.
E mesmo com várias máscaras, ela ainda se sentia sozinha, triste, abandonada. Assim como devia se sentir algum filhote cujos pais saíram para caçar e nunca mais voltaram. Ou talvez como uma criança que se perdeu numa rua movimentada. Quase desesperada, sem saber o que fazer, diariamente com vontade de chorar. De se debulhar em lágrimas. Isso era o que ela sentia. Era a vontade mais profunda dela. Cair aos prantos e colocar tudo para fora, enquanto aquele que havia sido feito para ela, acariciava seus cabelos ou apenas segurasse suas mãos, dizendo para que ela fosse forte.
Palavras de carinho, de afeto, de compaixão, amizade e compreensão. E principalmente, de companheirismo.
Era disso que ela sentia mais falta. Era o que ele dava a ela. E ela sabia que precisava dele. Que ela precisava mais do que tudo estar com ele, ouvir a voz dele, saber que ele ainda a amava.
E doía. Doía demasiadamente, Doía quase mortalmente.
A dor era terrível, insuportável. Ela não aguentava mais, mas era obrigada a fingir que nada estava acontecendo, que estava tudo bem. Era obrigada a ser hipócrita e concordar com o que lhe falavam. Era obrigada, pois se não fizesse isso, tudo aquilo teria sido em vão.
Ela estava cansada de chorar mentalmente, se é que isso é possível. Seu coração estava apertado, sufocado, lutando para bater mais uma vez. Ela sentia saudades, tristeza, ansiedade, agonia, raiva, frustração. Tudo isso e um pouco mais.
Ela não sabia realmente o que fazer. Então, quando o telefone tocou, seus olhos brilharam, sua mente clareou, seu coração ganhou mais força e ela sorriu.
Era ele.
...
Mal sabia ela que quando ela desligasse o telefone, aquela Grande Tristeza voltaria a assombrá-la.
E talvez, com mais vontade do que nunca.